Como gerir pequenas propriedades de leite rumo ao sucesso?
Hoje vamos abordar um tema comum, mas pouco discutido: a gestão de pequenas propriedades.
Os sistemas de produção de leite se dividem basicamente, ao meu ver, em três sistemas bem distintos. O primeiro chamo de sistema de “Tirar Leite”. O segundo chamo de produção de leite em pastagem (que muitos chamam de semiconfinado) e, por fim, o sistema de produção de leite em confinamento.
Sem mais delongas, o que chamo de tirar leite é, para mim, um sistema onde o produtor não se preocupa com muitos aspectos em relação a alimentação dos animais, deixando os animais somente em pastejo, fazendo a ordenha de manhã, soltando o bezerro com a vaca até meados das 13 horas. Nesse momento, o bezerro fica preso e vaca vai para o pasto comer o que estiver disponível para ela. De manhã volta para ordenha, é ordenhada, recebe seu bezerro e tudo recomeça.
O sistema de produção em pastagem e confinamento são aqueles sistemas que há uma preocupação em atender a demanda alimentar da vaca bem como do bezerro. Índices zootécnicos são avaliados e acompanhados, bem como a prenhez da vaca, anotações de cios e acompanhamento do crescimento de bezerras e novilhas. O que difere os dois, é com certeza o ambiente em que as vacas vivem, sejam confinados ou livres na pastagem e, ainda, o mais importante, a produção por animal/dia e produção diária total, para, antes de mais nada, “pagar” o sistema que a vaca utiliza.
Quando nós avaliamos os sistemas, devemos avaliar de duas formas: geral e específico. O geral é comparar o sistema perante os demais em funcionamento, para saber a direção que devo tomar e aplicar os fatores necessários para me enquadrar no sistema. O específico é avaliar de forma pontual, os acertos e erros dentro do sistema, enquadrado no sistema escolhido.
Neste momento, iniciaremos a discussão sobre a gestão do sistema de produção, com foco específico em pequenas propriedades. Gostaria de enfatizar que, apesar de serem pequenas, essas propriedades também exigem uma gestão eficaz. Sim, gestão.
Quando pensamos em sistemas de produção para pequenas propriedades, é comum imaginarmos que esses sistemas sejam mais simples ou menos complexos, mas a verdade é que a necessidade de organização e controle é igualmente importante. A gestão permite que o produtor tenha uma visão clara dos custos de produção, identifique oportunidades de melhoria, busque inovações tecnológicas e se adapte às novas demandas do mercado, seja para melhorar a produção agrícola, pecuária, ou até mesmo para agregar valor.
Por isso, ao falar sobre gestão, não podemos pensar apenas em grandes fazendas ou empresas, mas em qualquer atividade produtiva, independentemente do tamanho. A gestão bem feita traz benefícios como aumento da produtividade, melhor uso dos recursos, e, consequentemente, maior renda.
Quando pensamos em pequenas propriedades, muitas vezes buscamos sistemas mais simples. Com frequência, expressamos essa ideia de maneira confortável e, talvez, até despreocupada. Veja se você se identifica com algumas dessas falas: quero uma coisinha pequena, sem muito luxo; quero nada grande não, é só para eu me distrair; sem muita coisa, quero algo para passar o tempo; e a mais falada é: quero uma coisinha só para o gasto. Será que não é para dar gasto?
Vamos a uma história. Em uma das andanças, em uma propriedade rural, o produtor me chamou e disse o seguinte: estou produzindo leite em um hectare, com 12 vacas e ainda não fiz o pasto. Tenho silagem no ano todo e ração à vontade. Aqui nenhum animal passa fome, viu? As vacas até produzem até bem, em torno de 9 litros de leite cada uma.
Como já iniciado aqui, os sistemas que produzem em confinamento, utilizam vacas de média diária de 35 litros de leite. Já as em sistema de produção de leite em pasto (recebem ração também) utilizam animais de média de 17 litros mensais com picos de produção de até 30 litros de leite por dia. O que aconteceu na propriedade do exemplo nada mais é a falta de direcionamento correto da gestão na escolha do sistema da propriedade.
Dessa forma, podemos analisar aqui os erros e acertos do sistema de produção em questão. O produtor relatou que utiliza comida de boa qualidade e ração para os animais. No entanto, esse aspecto não é motivo para nos vangloriarmos, pois fornecer alimentos de maneira adequada e nas quantidades corretas é uma obrigação básica. Ele também mencionou que, apesar de oferecer boa alimentação aos animais, ainda não havia preparado o pasto. Engraçado, porém trágico. Além disso, relatou que, mesmo com alimentos caros, os animais produziam pouco leite. Então, fica a pergunta: está ou não está faltando gestão?
Gerir uma propriedade significa, acima de tudo, ajustar demandas, custos e benefícios de forma eficiente. Gerenciar algo é aprimorar conceitos e práticas continuamente. No caso de uma pequena propriedade, não se pode adiar decisões ou pensar que é “apenas para o básico”. Como já mencionei, muitas vezes essa ideia acaba gerando mais gastos do que o esperado.
Contrariamente à crença de muitos, o controle em pequenas propriedades precisa ser ainda mais rigoroso. Embora sistemas maiores (como os de grandes produções de leite) sejam, sim, mais complexos de gerir, isso não é impossível com o uso adequado da logística. Em grandes propriedades, o maior volume de lucros pode, em alguns casos, mascarar problemas. Vejamos um exemplo: “Ah, tivemos prejuízo em uma área, mas, felizmente, o lucro de outra cobriu as perdas.”
Mas e nas pequenas propriedades? Como minimizar prejuízos? A resposta, está em dois pilares: produção e gestão. Como aumentar a produção? Ajustando seu sistema para produzir o máximo possível dentro de suas capacidades. E como melhorar a gestão? Gerindo e otimizando o uso correto dos recursos disponíveis, sempre aprimorando o sistema ao longo do tempo.
Vamos exemplificar essa questão. O aumento da produtividade é resultado do uso de técnicas adequadas à sua realidade de produção, seja através da adoção de novas tecnologias ou pelo aprimoramento dos recursos que você já possui. Buscar suporte técnico é fundamental nesse processo: assistências, cursos, aperfeiçoamentos, leituras e informações são importantes ferramentas. Um exemplo prático é a adequação do volumoso utilizado na alimentação do rebanho. Vacas que produzem até 25 kg de leite por dia são mais economicamente viáveis quando alimentadas com pastagem e ração, em vez de silagem e ração. No inverno, elas são ainda mais rentáveis, pois conseguem converter o alimento em produção a um custo menor, o que impacta diretamente no aumento do lucro.
Por outro lado, a adoção de estruturas para confinamento de animais é uma opção mais cara, muitas vezes inacessível para pequenos produtores. Isso levanta uma questão importante: em sistemas de produção de leite em confinamento, é necessário que a produção diária seja alta. Mas quão alta?
Esta grandeza deve ser medida por suas escolhas e gerida de forma correta, pois apenas escolher e não geri-las corretamente é um passo para o fracasso. Não é por ser pequeno que não devemos buscar insumos a preços mais acessíveis. Além disso, é necessário escolher raças adequadas, instalações funcionais e práticas…. É para o gasto. É para dar gasto.
O produtor de leite em pequenas propriedades precisa compreender o que pode ser feito de maneira eficiente. Isso inclui buscar dietas mais econômicas e compatíveis com o sistema produtivo, além de optar por vacas que apresentem o melhor custo-benefício, focando na produção de leite, e não em resultados medianos. As instalações devem ser simples, mas práticas, por exemplo, salas de ordenha não precisam ter todas as paredes revestidas de azulejo, mas, sobretudo, devem ser higienizadas diariamente. Outro ponto importante é o ajuste da lotação nas pastagens, acompanhado de um planejamento alimentar adequado. Como diz o ditado, “uma boa compra vale mais que uma boa venda”. Enfim, ajustar o sistema é utilizar uma carroça para transportar cana pra 5 vacas e um trato para 30.
Conforme afirma um produtor de Reginópolis/SP: “Para que morder, se o latido resolve?” E ele também reflete: “Comprei um trator, agora preciso tirar mais leite.” Escolher um sistema de produção sem uma gestão eficiente é antecipar erros. Quando não se faz um planejamento cuidadoso, controlando custos, monitorando os processos e avaliando os resultados, o risco de desperdício de recursos e prejuízos é muito maior. Por isso, ao optar por qualquer sistema de produção, é necessário ter uma visão.
Gestão é primordial. Ela nos auxilia a entender e buscar decisões mais assertivas. Escolher um sistema para o gasto como mencionado, é assumir erros antecipadamente. Não seria mais fácil você ir no vizinho que tem produção e gestão e comprar o leite dele? Pensem nisso.
MARCO AURÉLIO FACTORI
Consultor, Factori Treinamentos e Assessoria Zootécnica.
JULIANA APARECIDA MARTINS FACTORI
Técnica Contábil – Assistente Financeiro
Publicação: Portal MilkPoint Ventures