Tarifas de Trump e os desdobramentos no setor lácteo
Na última quarta-feira (2), o presidente dos EUA anunciou a imposição de tarifas entre 10% e 50% sobre produtos importados. A primeira fase começa no próximo sábado (5), com uma taxa mínima de 10%, enquanto as tarifas completas entram em vigor na quarta-feira seguinte (9).
Valores tarifários elevados para parceiros comerciais
Grandes parceiros comerciais não foram deixados de lado no movimento tarifário de Trump:
- O Brasil foi taxado em 10%, a menor alíquota, devido ao baixo déficit comercial com os EUA.
- A União Europeia terá uma taxa de 20%, aplicada principalmente em produtos industriais e agrícolas.
- Já a China, acusada de práticas desleais como manipulação cambial e barreiras comerciais, enfrentará uma tarifa adicional de 34%, totalizando 54% quando somadas com à taxa de 20% anunciada no início deste ano.
A medida visa “reequilibrar” o comércio global, reduzir déficits e gerar receita, mas enfrenta retaliações de parceiros como China e UE, além de críticas por riscos inflacionários e desorganização de cadeias produtivas
Impactos das tarifas sobre o mercado nacional
Pensando nos reflexos sobre o mercado brasileiro, as tarifas extras de importação anunciadas pelos Estados Unidos em um primeiro momento tendem a ter poucos efeitos diretos sobre o setor lácteo nacional.
Como sabemos, o Brasil não possui relevância significativa nas exportações de lácteos, sendo predominantemente um país importador. Em 2024, por exemplo, o Brasil importou aproximadamente 2,3 bilhões de litros em equivalente-leite, enquanto as exportações ficaram próximas a apenas 86 milhões de litros (representando cerca de 0,3% do volume total de leite captado pelas indústrias brasileiras).
Analisando especificamente as exportações brasileiras de lácteos destinadas ao mercado norte-americano em 2024, os principais produtos embarcados foram leite condensado e creme de leite. Os Estados Unidos representam o principal destino para o leite condensado brasileiro e o segundo maior destino para as exportações de creme de leite. Portanto, embora o impacto geral para o mercado brasileiro tenda a ser limitado, essas duas categorias podem sofrer efeitos diretos mais significativos frente às novas tarifas.
Tabela 1. Exportações brasileiras de lácteos para os Estados Unidos em 2024
Fonte: Secretaria de comércio exterior – elaborado pela MilkPoint Ventures.
Apesar disso, há preocupações sobre os efeitos indiretos dessas medidas. Uma delas é o potencial impacto das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China sobre as commodities agrícolas brasileiras, especialmente milho e soja, que são ingredientes fundamentais na nutrição animal no Brasil.
Existe a expectativa de que a China anuncie retaliações às medidas adotadas pelos Estados Unidos, possivelmente aumentando ainda mais as tarifas sobre as importações de produtos norte-americanos. Como resultado, a China pode intensificar suas compras desses produtos no mercado brasileiro, elevando os preços internos dessas commodities.
No curto prazo, o mercado internacional apresenta tendências baixistas, refletindo cautela, especialmente na bolsa de Chicago, em resposta às recentes medidas anunciadas.
Outra preocupação significativa refere-se aos efeitos das tarifas sobre a economia global. Alguns analistas estimam que essas ações possam impulsionar a inflação nos Estados Unidos, aumentando o risco de uma recessão econômica norte-americana, o que teria consequências negativas também para a economia mundial.
Material escrito por:
Matheus Napolitano
Igor Antonio
Médico Veterinário formado pela Universidade Federal de Uberlândia. Editor de
Conteúdo Jr. da MilkPoint
Stephanie Alves Gonsales
Zootecnista formada pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduada em
Gestão do Agronegócio. Responsável pela Equipe de Conteúdo do MilkPoint.