Qual o melhor horário para ordenhar as vacas?
Tarefa diária e ininterrupta, a ordenha das vacas é essencial para a produção leiteira, sendo uma das primeiras atividades do dia e começando, normalmente, e antes do raiar do dia. Mas se vacas não possuem relógios, como sabem qual é o horário para a ordenha? Existe um “horário ideal”?
Embora vacas não usem relógios ou smartphones, elas parecem saber exatamente quando é a hora da ordenha, e de fato, sabem. As vacas sabem o horário da ordenha porque foram treinadas e condicionadas a isso, e, com o tempo desenvolveram seu “relógio biológico”, ou ritmo circadiano, ajustado pela rotina da fazenda.
Esse fenômeno ocorre pela associação constante de estímulos que se repetem sempre no mesmo horário. Assim como nós temos horários regulares de refeições e sono, as vacas associam certos horários e estímulos do ambiente com o momento de ordenha. Sons familiares, como o barulho da ordenha, o rádio do ordenhador tocando, a movimentação dos tratadores e até o cheiro característico da sala de ordenha, servem como pistas.
Por isso, é comum observar vacas na sala de espera já “vazando” leite, antecipando o momento da ordenha. A antecipação se deve à liberação de ocitocina, o hormônio responsável pela ejeção do leite, que começa a ser produzido antes mesmo de as vacas entrarem na sala de ordenha. A repetição e o padrão da rotina ajudam a desenvolver essa resposta fisiológica, fazendo com que elas estejam preparadas para liberar o leite no horário previsto.
Existe um melhor horário para a ordenha?
Depende. O melhor horário para a ordenha varia e depende de diversos fatores como estrutura da fazenda, número de vacas em lactação, horário de trato, disponibilidade de funcionários, horário de coleta pelo caminhão do leite e condições ambientais. A Embrapa recomenda que, em geral, as propriedades realizem a ordenha duas vezes ao dia, com intervalos de 12 horas entre elas para maximizar a produtividade e manter o bem-estar das vacas. Em fazendas mais tecnificadas, a rotina pode incluir três ordenhas diárias, com intervalos de aproximadamente 8 horas, especialmente em sistemas de alta produção. Para definir qual horário será estabelecido para a ordenha, é preciso considerar alguns fatores:
- Intervalo entre ordenhas: é recomendado manter intervalos regulares de 12 horas (para duas ordenhas diárias) ou 8 horas (para três ordenhas diárias), para evitar variações na produção e no fluxo do leite.
- Condições climáticas: em regiões de clima quente, é preferível realizar as ordenhas em horários mais frescos, para evitar o estresse térmico e permitir que as vacas estejam mais confortáveis.
- Horário de coleta do leite: geralmente realizada em horários específico, a coleta do leite pode influenciar a definição da rotina de ordenha, para que o leite seja retirado antes da chegada do caminhão.
- Tempo de manejo e número de funcionários: a ordenha exige mão de obra e tempo adequado. Dependendo do número de funcionários, do número de vacas, do tipo da ordenha realizada (manual, mecânica, automática) e do tempo de ordenha, o horário e a organização do manejo podem variar, buscando otimizar os processos e reduzir o estresse dos trabalhadores e dos animais.
Qual horário é mais comum para a ordenha?
O MilkPoint realizou uma pesquisa em grupos de Whatsapp e no Instagram para saber quais os horários os produtores realizam a primeira ordenha do dia nas fazendas:
Apesar de boa parte dos produtores ainda realizarem a primeira ordenha do dia ainda de madrugada (entre as 3 e 5 horas da manhã), mais de 50% dos que responderam a nossa pesquisa relataram que o horário da primeira ordenha do dia ocorre entre as 6 e 8 horas da manhã.
A ordenha antes do amanhecer é uma tradição, especialmente em pequenas e médias propriedades, onde o número de colaboradores é limitado, o que exige um início de dia antecipado para realizar todos os manejos da fazenda.
Ordenhas em horários muito cedo podem tornar o trabalho menos atrativo, contribuindo para uma alta rotatividade e dificultando a contratação mão de obra qualificada, especialmente com o crescente desafio da escassez de mão de obra na pecuária leiteira. Iniciar a ordenha um pouco mais tarde, pode trazer benefícios significativos para o bem-estar dos trabalhadores. Obviamente respeitando um período de transição gradual do horário das ordenhas, alinhado com o técnico responsável e aos demais manejos da fazenda.
Sistemas com horários de ordenha alternativos
Conhecida na Europa desde 1992, amplamente empregada nos EUA, e já adotada no Brasil, a ordenha voluntária ou robotizada permite que as vacas escolham, de forma autônoma, a frequência e o horário da ordenha. Nesse sistema, as vacas acessam a sala de ordenha quando sentem necessidade, e o processo é realizado por um sistema robótico que identifica a vaca, higieniza o úbere, insere e remove as teteiras sem intervenção humana. Esse método respeita o ritmo natural de cada animal e permite que as vacas adotem uma rotina mais flexível, o que pode impactar positivamente na produção de leite e na saúde dos úberes.
Outro exemplo é o Flexible Milking ou ordenha flexível, popular na Nova Zelândia, que ajusta a frequência e os horários da ordenha conforme necessário. No sistema mais comum, 3 ordenhas em 2 dias (3 em 2), as ordenhas ocorrem com um intervalo de 12-18-18 horas. Há também o sistema 10 em 7, com 10 ordenhas distribuídas em 7 dias, oferecendo mais flexibilidade na rotina.
Há ainda o Once-a-Day milking (ordenha uma vez ao dia), utilizado na Nova Zelândia e adotado por alguns produtores no Brasil, em que as vacas são ordenhadas somente uma vez ao dia durante toda a estação de produção. Esses sistemas alternativos são soluções que ajudam a lidar com alguns desafios encontrados na produção de leite, principalmente a escassez de mão de obra.
Retornando à pergunta inicial, existe um horário ideal para a ordenha?
De certa forma, sim, mas ele é específico para cada propriedade. A definição do horário deve equilibrar as necessidades fisiológicas das vacas com as demandas operacionais da fazenda.
Por: MARIA LUÍZA TERRA
Publicação e foto: Portal MilkPoint