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Aborto em vacas leiteiras: principais causas

Qual a diferença entre aborto, perda embrionária e natimorto?

aborto em vacas leiteiras é comumente definido como perda fetal entre os dias 42 e 260 de gestação. Perda de prenhez antes do dia 42 após a IA é considerada perda embrionária e quando o bezerro nasce morto depois de 260 dias de gestação é considerado natimorto.

 

Qual a taxa normal de abortamento em uma fazenda leiteira?

Uma pequena taxa de abortamento, de 3 a 5 abortamentos a cada 100 gestações, é considerada “normal”. No entanto, a ocorrência de abortamento representa perda na lucratividade da propriedade e ações devem ser tomadas para prevenir a ocorrência de abortos e investigar as possíveis causas.

Nos Estados Unidos estima-se que cada abortamento custa de $500 a $900 dólares, dependendo do valor das novilhas de reposição, da alimentação, do preço do leite e do estágio da gestação em que ocorre.

diagnóstico de abortamento é um desafio para proprietários e veterinários responsáveis por rebanhos leiteiros. Na maioria dos casos de abortamento a causa não é determinada.

É comum encontrarmos um aumento gradual ou repentino do número de abortos em determinadas épocas do ano, por isso devemos estar preparados para tomarmos medidas para prevenir e diagnosticar os casos de abortamento. Um sistema de informação bem conduzido é sempre útil nas investigações de surtos de abortamento.

 

Principais causas de aborto em vacas

Entre as principais causas de aborto em vacas leiteiras estão:

  • Brucelose
  • Leptospirose
  • Vírus da Diarreia Viral Bovina (BVD)
  • Vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR)
  • Neosporose
  • Campilobacteriose
  • Triconomíase
  • Alterações genéticas
  • Estresse térmico
  • Substâncias tóxicas

Os agentes infecciosos são provavelmente a causa mais comum de abortamento bovino, mas outros fatores também podem estar envolvidos.

 

Aborto em bovinos por alterações genéticas

As alterações genéticas não são frequentemente diagnosticadas e geralmente ocorrem devido a problemas individuais das vacas e não problema do rebanho.

As anormalidades genéticas podem não causar alterações na aparência do feto, mas podem resultar em abortamento devido à incapacidade do feto geneticamente alterado se desenvolver. Alguns tipos de alterações genéticas causam alterações visíveis no feto, mas também são raras.

 

Abortos em bovinos por estresse térmico

O estresse térmico pode afetar o desempenho reprodutivo do rebanho leiteiro, geralmente comprometendo a concepção ao invés de causar abortos. Mas existem algumas evidências de que um aumento repentino da temperatura ambiente pode causar abortamentos, como em vacas que apresentam abortamento devido à alta temperatura corporal (febre) resultante de infecções.

 

Abortos em bovinos devido a substâncias tóxicas

Os agentes tóxicos são substâncias que podem causar abortamento, dentre elas as micotoxinas (toxinas produzidas por fungos) são bastante comuns, pois são frequentemente encontradas na alimentação das vacas leiteiras.

Bactérias que podem causar aborto em vacas leiteiras

Brucella abortus

A brucelose é uma doença infecciosa contagiosa, causada por bactérias do gênero Brucella. As infecções nos bovinos são causadas pela B. abortus. Esta doença é caracterizada por abortamento em fêmeas prenhez e orquite e epididimite nos machos.

Foi considerada a enfermidade mais importante causadora de problemas reprodutivos, com consequências importantes, pois é uma zoonose (doença comum a animais e ao homem) muito difundida e grave para o ser humano, causando a febre ondulante. Ainda é relatada na maioria dos países, apesar de existirem vacinas efetivas.

A brucelose é, principalmente, uma doença de fêmeas, sendo o abortamento no terço final da gestação o principal sinal clínico. A infecção também resulta no nascimento de bezerros fracos ou natimortos, retenção de placenta e queda na produção de leite.

Vacas infectadas normalmente abortam apenas uma vez. Em touros, a bactéria infecta a vesícula seminal, o epidídimo e os testículos. Laminitemastite ou abscesso testicular também pode ocorrer em rebanhos infetados.

 

Leptospira spp.

A leptospirose é uma doença altamente contagiosa envolvendo várias espécies animais e é uma das mais importantes zoonose.

É caracterizada por doença sistêmica severa, morte embrionária precoce, abortamentos, síndrome de bezerro fraco, queda na produção de leite e anormalidades ocasionais no leite. São bactérias muito comuns em climas quentes e úmidos, terras alcalinas e áreas alagadiças. É uma enfermidade cosmopolita.

 

Campylobacter spp.

A campilobacteriose (vibriose) é uma doença venérea que acomete bovino, e é causada pela bactéria do gênero Campylobacter. Este microrganismo é um patógeno de flora normal da genitália bovina, só sobrevivendo neste ambiente.

É uma enfermidade cosmopolita, mas não é classificada como uma doença de notificação obrigatória, o que dificulta o cálculo das taxas de incidência e prevalência. Não existe nenhuma sintomatologia clínica típica da infecção.

Normalmente, a queixa principal do proprietário é a de que as vacas ou novilhas estão retornando ao cio depois de cobertas ou inseminadas. Os quadros de abortamentos são raros. É uma enfermidade que acomete animais jovens e adultos, embora as vacas mais velhas apresentem maior resistência por já terem tido contato e desenvolvido imunidade com duração variada.

A campilobacteriose não tem efeito clínico direto em touros.

Ureaplasm diversum e Mycoplasma bovigenitalium

Geralmente esses agentes causam problema quando são introduzidos em rebanhos livres. É difícil determinar se esses agentes estão relacionados com abortamentos, pois são encontrados comumente em animais sadios.

 

Actinomyces pyogenes, Bacillus, Streptococcus spp. e outras

São bactérias encontradas comumente no ambiente podem causar abortos em vacas de leite. Esses microrganismos geralmente atingem o feto e a placenta pelo sistema circulatório. A bactéria pode não causar doença na mãe, porém o feto parece ser mais sensível, provavelmente devido à imaturidade do seu sistema imune. O resultado do crescimento bacteriano é a morte do feto e sua expulsão (abortamento).

Vírus que podem causar aborto em vacas

Diarreia viral bovina (BVD)

A BVD aguda é especialmente importante em animais gestantes, pois a exposição da vaca, no momento da cobertura, pode alterar a concepção.

O vírus pode penetrar a placenta e causar infecção intrauterina no feto resultando em morte embrionária precoce, abortamento, defeitos congênitos, nascimentos de crias mortas, mortalidade neonatal, menor crescimento ou o nascimento de bezerros persistentemente infectados (PI) com o vírus da BVD. Esta é uma doença bastante complexa.

Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR)

A IBR continua sendo a causa viral de abortamentos mais diagnosticada no mundo. O abortamento pode acontecer em dois ou três animais de um rebanho ou o vírus pode se disseminar, causando surtos de abortamentos devastadores podendo chegar de 25 a 60% por um período de semanas ou meses. O abortamento pode ocorrer em qualquer momento da gestação.

Abortamentos por IBR são muito comuns em rebanhos leiteiros. Corrimento nasal e ocular e secreção das pústulas das mucosas também podem ser evidentes. Alguns animais aumentam a salivação e ficam agitados. Fêmeas prenhes podem abortar sem outros sinais de doença.

Protozoários que podem causar abortos em vacas

Neospora caninum

A neosporose é uma doença parasitária causada pelo protozoário Neospora caninum, assim denominado porque foi encontrado inicialmente em tecidos de cães. O Neospora foi identificado, primeiramente, como causa de falha reprodutiva em relação a um surto de abortamento ocorrido em um rebanho leiteiro no Novo México em 1987.

É reconhecido como uma das principais causas de abortamento em bovinos. A maioria das vacas infetadas com Neospora não abortará e os bezerros serão saudáveis, porém com infecções persistentes. Se estes animais são mantidos como no rebanho, a infecção é perpetuada e transmitida à descendência.

 

Tritrichomonas foetus

A tricomoníase ou triconomose é uma doença venérea bovina causada por um protozoário denominado Tritrichomonas foetus.

É uma doença difícil de ser diagnosticada e eliminada de um rebanho. É menos comum em locais que usam inseminação artificial (IA) e mais comum onde se usa ainda a monta natural. Embora os touros sejam os portadores da doença, eles não mostram nenhum sinal clínico.

Nas fêmeas, a infertilidade, os abortamentos precoces (primeiro 60 dias) e quadros de piometras (infecções uterinas) são os sintomas clínicos mais comuns. Outros sintomas como diminuição na taxa de concepção e cios irregulares também é relatada.

morte embrionária precoce pode ser maior do que 5%. A tricomoníase não causa nenhum sinal clínico alarmante podendo, portanto, passar despercebida, até que as primeiras falhas reprodutivas ocorram.


Fungos que podem causar abortos em vacas

As infecções micóticas (fungos) também podem causar abortamento em bovinos. O principal microrganismo causador de infecção é o Aspergillus fumigatus responsável por 80% dos abortamentos micóticos bovinos.

A infecção normalmente resulta em abortamentos que acontecem durante o terço médio e final da gestação, frequentemente próximo ao termo, embora eles possam ocorrer já no segundo mês de gestação. A placenta normalmente é retida e permanece firmemente fixada. Infecções bacterianas secundárias normalmente ocorrem concomitantemente.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

 

Publicação: Portal MilkPoint