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Diferença entre procedimentos e rotina de ordenha

Primeiramente precisamos entender como é a distribuição e armazenamento do leite nos compartimentos do úbere. O leite se distribui em dois compartimentos, sendo interior dos alvéolos e pequenos ductos, que constitui o leite alveolar, maior volume, já o menor volume é armazenado no lúmen dos ductos e nas cisternas, formando o leite cisternal.

A transferência do leite alveolar para a cisterna ocorre aproximadamente em quarenta segundos após o primeiro contato com teto em úbere repleto. Em úberes com pouco leite, esse tempo pode estender para cerca de cento e cinquenta segundos, ou seja, é necessário contato tátil para que ocorra de forma fisiológica a descida e ejeção do leite de uma vaca. Independente do tipo e intensidade do estímulo tátil, é organismo da vaca precisa de pelo menos trinta segundos após a estimulação, para atingir níveis significativos de ocitocina na circulação sanguínea, ou seja, não basta estimular, a descida do leite não ocorre de forma instantânea, é necessário aguardar o processo hormonal ocorrer para que a ejeção do leite aconteça. Outro detalhe importantíssimo, é que quanto maior a quantia de leite armazenado no úbere, menor o tempo para que ocorra a transferência do leite alveolar para a cisterna.

Visto o processo fisiológico, é compreensível que não basta apenas estimular, temos que aguardar o processo fisiológico acontecer, bem como não é correto estimular e imediatamente acoplar o conjunto de teteira para ordenhar. Entender o processo natural da vaca e o que é preciso para se obter o maior volume de leite em menos tempo é essencial para a vaca. Realizar então uma ordenha leve, rápida e bem executada.

Como já sabemos a fisiologia e tempo necessário para descida do leite, é nítido para que isso ocorra são necessários os procedimentos de ordenha, ou seja, é necessária a preparação do úbere, tetos e estimulação para realizar a ordenha. Fazem parte dos procedimentos: limpeza e desinfecção dos tetos, estimulação, secagem dos tetos e colocação das teteiras e desinfecção após a ordenha.

Limpeza e desinfecção dos tetos

Pré dipping, é o processo de limpeza e desinfecção realizado imediatamente após a chegada da vaca no fosso de ordenha, com produtos germicidas de ação rápida (trinta segundos em contato com a pele do teto), podendo ser utilizado em forma líquida e espuma. São produtos indicados para pele, que além de manter a integridade da pele, combatem microrganismos trazidos do ambiente que a vaca vive. Este procedimento é feito na maioria dos casos antes do estímulo do animal e repetido após o estímulo.

Vale lembrar que todos os produtos de pré dipping, necessitam de um tempo de contato com a pele do teto de pelo menos trinta segundos e sua ação é afetada pela sujidade do úbere, ou seja, quanto mais limpo o ambiente que a vaca se encontra, menor a sujidade da pele do úbere e melhor será a ação do produto utilizado.

Estimulação

Procedimentos realizado por contato mioepitelial, ou seja, contato com as mãos do ordenhador, este contato não é apenas tátil, é necessário realizar três a cinco jatos de leite para que ocorra a descarga hormonal de ocitocina e desça o leite alveolar. A estimulação além dos três jatos, serve para eliminar o leite parado na cisterna do teto entre ordenhas e para diagnósticos de quadros de mastite clínica. Após a estimulação, devemos repetir a desinfecção com pré dipping e aguardar trinta segundos.

Secagem dos tetos

Após os trinta segundos de ação do pré dipping no teto, podemos realizar a secagem dos tetos, este procedimento também é considerado estimulação, já que ao secar, estamos realizando indiretamente uma massagem. Os tetos podem ser secos com papel toalha e toalhas de pano (opção de cada propriedade).

Colocação das teteiras

A colocação das teteiras é o último procedimento a ser realizado, pois recapitulando a vaca precisa de um determinado tempo para que consiga descer todo o leite armazenado nos alvéolos e então fazer a ejeção do maior volume de leite possível um curto espaço de tempo. Durante o período de ordenha, o maquinário é ajustado para ordenhar de forma leve, rápida sem agredir os tetos e esfíncter, portanto colocar o conjunto no tempo adequado, permite que a vaca tenha uma ejeção leve de leite e tenhamos maior fluxo nos primeiros minutos de ordenha.

É sabido que a ordenha de uma vaca, dura em torno de quatro a cinco minutos. Se colocado o conjunto sem que a vaca esteja estimulada, a ordenha ocorrerá de forma abrupta e agressiva, podendo lesionar o esfíncter do teto, além de prolongar a ordenha pelo fato da descarga hormonal de ocitocina correr duas vezes, ou seja, a vaca acaba tendo que fazer dois picos de ocitocina na circulação sanguínea para que desça o leite alveolar  e como um pico já ocorreu o segundo é sempre menor, resultando em menor volume de leite e menor média de produção.

Desinfecção dos tetos após a ordenha

A desinfecção dos tetos após a ordenha, também ocorre com um produto germicida, porém com ação prolongada, de duas a três, pois o fechamento do esfíncter leva em torno de duas horas após a ordenha para acontecer, enquanto isso, o canal do teto encontra se aberto podendo adentrar microrganismos e posteriormente uma inflamação da glândula mamária. Os produtos indicados são pós dipping, com imersão completa do teto, formando uma barreira de proteção entre as ordenhas.

Resumidamente procedimentos de ordenha, são todos os processos realizados antes, durante e após a ordenha. Como foi falado um pouco de cada procedimento, fica a dúvida o que é rotina de ordenha? A rotina de ordenha é a ordem com que executamos os procedimentos para que a vaca consiga ter o tempo necessário para atingir o pico de ocitocina e descer o maior volume de leite alveolar. A rotina é dependente de alguns fatores como: quantos ordenhadores tenho disponível no fosso de ordenha, quantas vacas ordenhadas, categoria de rebanho (maior porcentagem de animais jovens ou adultos, ou seja, tenho mais vacas ou novilhas na ordenha) quantos conjuntos de teteiras, tipo da sala de ordenha, produtos utilizados.

Ajustar uma rotina de ordenha é estritamente necessário conhecer os fluxos de leite nos dois primeiros minutos de ordenha, capacidade de volume produzido, capacidade potencial do conjunto de ordenha e maquinário regulado. Existem inúmeras formas de realizar uma rotina de ordenha, mas somente a rotina que acompanha a necessidade fisiológica de vacas de alta produção conseguem uma performance alta.

Pensar em qualidade, quantidade e tempo é o segredo para o ajuste de uma boa rotina de ordenha, onde a vaca é a maior favorecida. É necessário “caminhar junto” vaca, ordenhador e maquinário para uma produção de alta performance.

Por MARIA ANDREZA ARVING MOROZ
Cowbaby Consultoria
Publicação: Portal MilkPoint