Interleite 2019: “As autopropelidas nos proporcionaram aplicar conceitos não possíveis antes.”
O Interleite Brasil 2019, evento que ocorreu nesta semana (nos dias 7 e 8 de agosto em Uberlândia/MG) contou com um painel sobre a “Gestão da produção de silagem e alimentos nas fazendas”.Ele foi moderado por Thiago Fernandes Bernardes, Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), que inclusive, foi o primeiro palestrante do painel.
Com a palestra “Do campo ao cocho: o que há de novas tecnologias para a produção de alimentos conservados?”, Thiago prendeu a atenção do público com as inovações sobre o tema. Ele falou sobre como os conceitos de nutrição têm afetado (ou afetarão) a produção de silagem de milho, como por exemplo, o processamento dos grãos sem afetar demasiadamente a fibra e como disponibilizar amido sem afetar a mastigação. “Sobre este último item, como conseguimos isso? Com asmáquinas autopropelidas. Elas foram desenvolvidas para aplicarmos conceitos no campo que antes não conseguíamos. O mercado brasileiro inclusive vem absorvendo uma grande quantia dessas máquinas”.
Thiago Fernandes Bernardes
Para Thiago, as silagens de grãos úmidoscontinuarão a ser produzidas. “Hoje nós conseguimos reidratar os grãos, inclusive, sorgo. Muitas fazendas aderiram essa reidratação porque ela pode ser feita tanto por pequenos, como por grandes produtores. É interessante pontuar que a silagem de espiga (snaplage), que é uma outra opção, é uma facilitadora para algumas propriedades. Essas três modalidades vieram para ficar”.
O palestrante questionou ao público o porquê ainda precisamos de forrageiras secundárias. “Quanto mais amido altamente digestível presente na dieta, são essenciais mais condições para a vaca mastigar. Por isso, precisamos produzir mais pré-secados em fardos (ou feno). Uma opção, se a fazenda não produzir, é comprar de terceiros, ou, fazer um pré-secado na trincheira. Gostaria de destacar aos produtores presentes que se vocês não pensam no ‘agronômico’, vão precisar começar a pensar caso queiram trabalhar – principalmente – com amido altamente digestível”.
Bernardes também expôs ao público as mudanças que estão ocorrendo em termos de manejo. “Com mais silagens sendo produzidas, precisamos caprichar mais nos processos, como por exemplo, aprimorar o uso de inoculantes. Estamos em uma evolução constante em relação aos aditivos. É legal acrescentar que vale também buscar mais informações sobre o uso de ácidos nas rações, pois é uma solução que pode contribuir para a melhoria da mão de obra na fazenda”.
Além dessas alternativas, ele citou outras possíveis tecnologias, como osfilmes com barreira ao oxigênio, que protegem a silagem e surgiram inspirados nas embalagens para alimentos destinados aos humanos. “Custa mais caro? Talvez. Compensa? Na maioria das vezes sim. Devemos estudar caso a caso”.
Segundo o especialista, sobre o milho, algumas melhorias ainda podem ser aplicadas, como: grãos mais preparados para o estresse hídrico; programas de refúgio; disponibilização de grãos maiores e mais compridos (consequentemente, mais amido na silagem) e valor nutritivo da porção vegetativa. Sobre as perspectivas com relação à vedação, ele frisou a barreira ao oxigênio e o uso de biodegradáveis, que no futuro, talvez possam ser comestíveis.
“Para finalizar, sobre o comércio de silagem, é importante dizer que se você não é bom em produzir, provavelmente comprará de fora. Por isso, algumas fazendas estão se especializando apenas na produção desses alimentos para os pecuaristas”.
O painel também contou com a palestra de Cássio Vieira Vilela, que – dentro do negócio há sete anos – hoje é diretor da Fazenda Campos Bocaina, localizada em Passos/MG.
Ele sempre trabalhou no escritório de contabilidade da família que também fica na cidade e após uns anos, se despertou para o mundo ‘rural’. “Meu pai sempre trabalhou com genética Holandesa de ponta, mas a nossa atividade era bastante arcaica em termos de gestão. Porém, por mesmo que trabalhássemos bem com contabilidade e o nosso fluxo de caixa fosse conhecido, não havia informações precisas, não tínhamos parcerias, entre outros”.
Cássio Vieira Vilela
Segundo Cássio, a propriedade chegou em um momento no qual precisava tomar uma decisão, pois a estrutura não estava mais comportando as peculiaridades do gado Holandês. “Chegamos a analisar se parávamos com a atividade ou investiríamos nela. Quando concluímos que deveríamos investir, optamos – no ano de 2014 – por um free stall, mas, com o ‘boom’ do compost barn, logo mudamos de ideia, pensando no conforto das vacas e questões relacionadas aos dejetos”, explicou.
Vilela comentou que após a adesão por essa instalação, eles esperavam um momento de ‘divisão de águas’, pois o objetivo era passar a captar 40 litros de leite por animal. “Para que isso acontecesse, faltava gestão. Eu na época já tinha concluído um curso sobre o assunto e sabia que tínhamos que estruturar uma equipe forte na fazenda com técnicos competentes. Fomos fazendo isso aos poucos e hoje – para exemplificar – temos um técnico para cada área e o mais ‘novo’, tem três anos de casa. O gerente da Campos Bocaina está conosco há mais de 10 anos. Posso dizer de boca cheia que formamos um time”.
Quando ele olha para trás, se orgulha dos investimentos realizados. “Escutamos muito que a fazenda era pequena e que não suportaria parte deles [investimentos], mas fomos mudando a mentalidade – inclusive dos funcionários – e algumas coisas eram fundamentais para alcançarmos bons resultados. Destaco a importância da valorização das pessoas para o desenvolvimento de um verdadeiro time”.
Em 2019, a Campos Bocaina passou a focar em:
– organização e facilidade, com reuniões diárias, semanais e mensais;
– check list semanal (medicamentos, alimentação etc);
– parcerias duradouras (APROLEITE, Vigor, Delaval);
– foco em reprodução;
– produção e acompanhamento do volumoso;
– uso da tecnologia (era 4.0, polares de identificação de saúde);
– desenvolvimento de pessoas e valorização do bem-estar animal.
Por Raquel Maria Cury
Coordenadora de conteúdo do MilkPoint