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Intoxicação por uréia

A uréia pode ser utilizada como aditivo alimentar para ruminantes com o intuito de fornecer uma fonte protéica de baixo custo, além disso, seu uso possibilita o consumo de forragens de baixa qualidade. A uréia funciona como uma fonte de amônia para as bactérias do rúmen. Entretanto, deve-se ter muita cautela durante sua utilização devido ao alto risco de intoxicação.

A intoxicação causada pelo consumo de uréia em animais não adaptados ou em grandes quantidades (para os animais já adaptados) leva a um quadro agudo e muitas vezes ocasiona a perda do animal. Casos de acesso acidental a grandes quantidades de uréia na forma líquida ou em pó, podem também ocorrer, acarretando sérios prejuízos.

O diagnóstico do quadro de intoxicação deve ser apoiado no histórico de ingestão da uréia, na sintomatologia e nos achados de necropsia. Os sintomas podem ser observados cerca de 30 minutos após a ingestão da uréia. O quadro de intoxicação se caracteriza por apatia, incoordenação motora, tremores musculares, timpanismo, salivação excessiva, micção e defecação freqüentes, dispnéia, enrijecimento dos membros anteriores, prostração, tetania, convulções, colapso circulatório, asfixia e morte. A evolução é rápida e a morte ocorre cerca de quatro horas após a ingestão. Durante a necropsia deve-se observar atentamente sinais de irritação no rúmen, cheiro de amônia, congestão e edema pulmonar, hemorragias endo e epicárdias, abomasite leve, congestão e degeneração do rim e fígado.

A patogenia da intoxicação por uréia ocorre com a degradação do composto. Ao alcançar o rúmen a uréia sofre ação da urease e é então desdobrada em amônia e dióxido de carbono, sendo a amônia utilizada como fonte de nitrogênio para síntese de proteínas pelos microorganismos ruminais. Quando o acúmulo de amônia no rúmen excede a capacidade de detoxicação do fígado ocorrem os casos de intoxicação.

A quantidade de uréia necessária para provocar o quadro de intoxicação depende de diversos fatores, principalmente da velocidade de ingestão, pH do rúmen e grau de adaptação do animal. Geralmente, níveis de 0,45 a 0,50 g de uréia/kg PV, ingeridos num curto espaço de tempo, provocam intoxicação em animais não adaptados. A adaptação às quantidades de uréia recomendadas na prática deve ser feita em um período que pode variar de duas a seis semanas. A intensidade dos sinais clínicos está relacionada aos níveis sanguíneos de amônia e não aos níveis da mesma no rúmen. A tolerância à uréia é perdida rapidamente e os animais que não receberem uréia por um ou mais dias, voltam a ser susceptível ao composto e devem ser novamente adaptados.

O tratamento deve ser realizado logo que sejam notados os primeiros sintomas. Seu objetivo é reduzir o pH no ambiente ruminal e impedir a absorção excessiva da amônia. Deve-se administrar vinagre ou ácido acético a 5%, por via oral, 4 a 6 litros/animal adulto, a cada 6 ou 8 horas. A administração de água gelada em grandes quantidades (20-40 litros/animal) também pode ser usada para reduzir a temperatura ruminal e diminuir a ureálise. Outros medicamentos poderão ser usados para alívio dos sintomas, tais como, soluções de cálcio e magnésio, soluções de glicose e laxativos.

Para a prevenção dos casos de intoxicação deve-se introduzir a uréia gradativamente, com grande atenção para o esquema de adaptação do animal. Recomenda-se um período de adaptação de duas a quatro semanas, em função do nível e forma de fornecimento da uréia. O total de uréia não deve exceder a 3% do concentrado ou 1% da matéria seca da ração. Outro ponto de relevância é a homogeneidade da mistura, para evitar a maior ingestão do produto por alguns animais do lote. Deve-se ainda evitar o uso da uréia em dietas com deficiência de carboidratos fermentáveis no rúmen. Animais muito fracos, depauperados e em jejum não devem ter acesso a dietas com uréia.

O fato da uréia causar intoxicação já é um episódio do conhecimento de todos. Este artigo busca enfatizar os sintomas clínicos do quadro e alertar para a rápida evolução do mesmo. As opções de tratamento são simples, oferecem bons resultados, contudo necessitam ser administradas logo no início dos sintomas. Sempre que uréia for utilizada em um rebanho, vale a pena ter no estoque da propriedade a medicação necessária para pelo menos um animal.


Fonte:

Blood, D. C.; Radostits, O.M. Clínica Veterinária. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1991. p.1092.

Boin, C. Efeitos desfavoráveis da utilização da uréia. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 2, 1984, Piracicaba. Anais… Piracicaba: FEALQ, 1984. p.25.

Por:

RENATA DE OLIVEIRA SOUZA DIAS

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