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O desempenho na fase de cria e recria como indicador de sucesso da produção de leite

Os custos com a cria e recria giram em torno de 20 a 30% dos custos totais da fazenda e por não darem retorno imediato ao produtor recebem menos atenção. No entanto, negligenciá-las é um grande erro, pois com os trabalhos de melhoramento genético, o resultado são animais mais produtivos. As novas bezerras da fazenda são o fruto do trabalho de seleção e melhoramento desenvolvido, e projeta-se que sejam superiores as suas mães em índices produtivos.

Em 2020 um estudo neozelandês utilizou dados de 189.936 bezerras nascidas no país entre 2006 e 2013 e mostrou a relação entre o ganho de peso e dois fatores: reprodução e longevidade (Handcock et al., 2020). As respostas reprodutivas são o principal motivo de descarte das novilhas do rebanho, com valores em torno de 35% do total de descarte. Já a longevidade é essencial pois o tempo de permanência da novilha no rebanho irá garantir que ela pague o investimento feito pelo produtor durante a fase de cria e recria.

Estima-se que o tempo necessário para a novilha se pagar varia de acordo com a duração das fases cria e recria. Entretanto, na literatura encontramos valores em torno de uma lactação e meia (Boulton et al., 2017). Esse valor é alarmante, já que as taxas de descarte ou morte durante a cria e recria são altas até mesmo em lugares com sistemas de produção muito tecnológicos. No Reino Unido, 15% das bezerras nascidas no país em 2013 não chegaram a primeira lactação e 19% pariram uma única vez antes de serem descartadas do rebanho. Esses números podem ser melhores quando há protocolos sanitários e nutricionais adequados para as bezerras e novilhas.

Um estudo anterior do mesmo grupo de pesquisa comparou novilhas das raças Holandesa e Jersolando que foram emprenhadas pesadas (343 kg) ou leves (290 kg) (Handcock et al., 2019). A taxa de descarte das novilhas que ficaram prenhes com maior peso corporal na primeira e na segunda lactação foi de 7 e 24%, respectivamente. Já as que ficaram prenhes com menor peso corporal tiveram taxa de descarte de 18 e 38%, respectivamente, mostrando assim a vantagem em se ter novilhas mais pesadas ao primeiro cio. Os resultados do estudo atual também condizem com os encontrados anteriormente.

Observando os resultados nota-se que a longevidade da novilha no rebanho é relacionada a dois fatores: sua idade ao primeiro parto (IPP) e ao seu peso aos 15 meses de idade. Sendo que as novilhas com o IPP de 2 anos são mais longevas no rebanho do que as com IPP de 3 anos. Assim como as novilhas com o IPP de 3 anos possuem maior longevidade no rebanho em relação as novilhas com IPP de 4 anos.

Já o peso ideal das novilhas aos 15 meses de idade varia de acordo com a IPP. Porém, as três categorias de IPP avaliadas (2, 3 e 4 anos) atingiram valores mínimos de taxa de descarte entre 330 e 350 kg com 15 meses. Sendo que valores maiores ou menores de peso aos 15 meses de idade resultaram em perdas na longevidade da novilha no rebanho.

As novilhas que atingem o cio com peso ideal demonstram também melhor produção de leite na primeira lactação, além de maiores produções acumuladas durante as três primeiras lactações. Já as novilhas que possuem IPP mais avançada têm maior possibilidade de apresentar problemas no pós parto como hipocalcemia. Além disso, novilhas que ganham peso em excesso e atingem o primeiro cio muito cedo podem apresentar problemas na glândula mamária que comprometerão sua produção pelo resto da vida.

Contudo, apesar da fase de cria e recria ser onerosa e não gerar retorno financeiro imediato para a fazenda, resultará em inúmeros retornos futuros. As novas fêmeas da fazenda são parte do trabalho de seleção e melhoramento do rebanho, e espera-se que sua longevidade no rebanho, produção de leite e índices reprodutivos sejam melhores do que de sua mãe. Para que esses e demais resultados ocorram, é necessário investir nessas fases.

 

Trabalho de vários autores

Família do Leite

Portal Scot Consultoria

Foto: Imprensa Sindileite-Goiás